Foto: Jornal do Comércio |
Por Israel Ávila | Certamente na sua vida você já teve aquela sensação de que algo vai acontecer de ruim quando está tudo muito calmo. No carnaval esta sensação é gritante, haja vista que o que marca a festa é exatamente o som da bateria. A verdade é que não podemos “tapar o sol com a peneira”, a estagnação com que se encontra o carnaval de Porto Alegre é preocupante, mas esperada.
Desde que o prefeito Nelson Machezam JR assumiu afirmando que
o carnaval deverá em seu mandato caminhar com as próprias pernas, ou seja, sem
auxilio (e até com alguns empecilhos) da prefeitura que a catástrofe era
prevista. A posição do mandatário da cidade é clara, por ele, não há mais o que
falar sobre o assunto. Prova disso é que a mais de 3 meses que nosso site tenta
uma nova entrevista com prefeito e sua assessoria diz não haver agenda. NÃO HÁ
ASSUNTO COM O POVO DO SAMBA!
Em contrapartida no momento em que se deveria fazer mais
barulho, é que o silêncio se instalou. Poucas quadras de escolas de samba tem
realizado seus eventos de forma natural. Quase nenhuma escola de samba divulgou
seu tema, quando em outras épocas já tínhamos festivais realizados e sambas na
ponta da língua.
Ensaios também são poucos, pouquíssimos. Das escolas do Grupo
Especial, agora Série Ouro, somente Imperadores do Samba, Imperatriz Dona
Leopoldina e Estado Maior da Restinga estão dando passos semelhantes há anos
anteriores.
Esta parada brusca no andamento por parte das escolas de
samba se dá em sua maioria porque “a fonte secou!”. É triste, é complicado, mas
é a realizada. Era mais confortável realizar carnaval com a certeza de
subvenção. Havia quem dizia que o valor repassado as escolas de samba era
pouco, mas o pouco da época seria muito hoje para quem não tem nada.
É exatamente esta contradição que perturba os carnavalescos:
Não seria agora a hora de realizar mais eventos? Afinal, as quadras seriam a única
fonte de renda das escolas de samba. O que parece é que, diferente do enredo da
Estação Primeira de Mangueira deste ano (Com ou sem dinheiro, eu brinco!), aqui
no sul nossos dirigentes não querem mais brincar. SIM, dirigentes! Não podemos cobrar
da baiana, por a responsabilidade no ritmista, ou ainda bater na porta do
integrante de ala. Quando se assume um posto de gerência de uma agremiação é
exatamente como a presidência de uma empresa: esteja ela em andamento ou em
falência, o responsável sempre será quem a dirige.
Foto: Diário Gaúcho |
Na último domingo entidades realizam o evento Território do
Samba, que visava agrupar o maior número de pessoas no Complexo Cultural do
Porto Seco para mostrar que há vida ali e a possibilidade de transformar o
local em um grande pondo de eventos. IDEIA LOUVÁVEL! Mas não se pode cobrar de quem não esteve lá! O carnaval de Porto
Alegre há anos está desacreditado, isso porque não se ganha jogo de futebol
mantendo o mesmo time que não faz gol... por que não se ganha jogo de Xadrez
sem mexer as peças... porque não se arruma a mesa sem sacudir a toalha!
O trabalho de reerguer o carnaval de Porto Alegre é sim de
todos, mas hoje, mas do que nunca, é preciso ouvir o que povo que lotava as
quadra, que lotava as arquibancadas, que lotava as alas... e que hoje já não
lotam mais. Perguntar por que não vem mais, porque não aparecem... e se for
preciso se desculpar com um-a-um por erros cometidos no passado. Parece
loucura, mas foram loucos os maiores sábios do universo.
RECICLAGEM é a palavra a ser usada e fomentada, e não estamos
falando de velhas fantasias... estamos falando de velhas pessoas, de velhos hábitos,
e de velhos erros.
Há poucos dias escrevi um texto fazendo uma analogia sobre os
tradicionalistas e os carnavalescos, mas temos de admitir que boa parte do
sucesso deles é a UNIÃO que eles tem. E a falta desta união é exatamente um dos
grandes motivos do nosso fracasso.
Hoje temos dois caminhos: Cobrar dos nossos dirigentes para
que façamos barulho, ou aguardar em silêncio aquele surdo de marcação triste
que embalará nosso carnaval para o seu fim.