domingo, 6 de agosto de 2017

Como sair de uma escola de samba


Por Willian Tadeu 

Quando você se desliga de uma escola de samba com a qual tem grande envolvimento, invariavelmente isto é precedido de longas e difíceis reflexões sobre as causas, as ações a serem tomadas e as consequências da decisão. Sair de uma escola de samba não é fácil. Você deixa lá um pedaço de sua vida, de sua história. É um fragmento de sua identidade, um tantinho daquilo que você é que fica para trás.

Por mais que tenha refletido, você acaba sendo surpreendido em diversos momentos. As reações das pessoas à sua saída são as mais diversas possíveis. Há aqueles que são incrivelmente apegados a você, lamentam (alguns até choram as mesmas lágrimas que você), te procuram pra tentar reverter a decisão ou para pelo menos desejar boa sorte e falar sobre o apreço que sentem. Há também aqueles que silenciam - por vezes, os mais próximos - de maneira eloquente. Sabem aquele silêncio que diz tudo? Dói na pessoa e ela sabe da sua dor e vocês não precisam falar nada um para o outro.

Ocorrem também situações desagradáveis, é claro. Sempre há quem queira lhe ver pelas costas, principalmente quando você é firme nas posições e prioriza a retidão e a qualidade do trabalho em detrimento dos conchavos. Há quem celebre sua saída propositalmente na mesa dos seus chegados, sabendo que isto chegará aos seus ouvidos, tentando feri-lo, atingi-lo. Às vezes, é até alguma pessoa que, em determinada situação, você foi um dos poucos a defender quando queriam servir sua cabeça num prato. E o sujeito nem sabe, porque você não fez questão de se gabar, não fez em troca de prestígio ou favor, mas por justiça.

Há quem te exclua totalmente, da vida e das redes sociais. Isto é, de certa forma, lisonjeiro. De alguma maneira, aquela pessoa dava tanta importância para sua presença que não suporta a ausência. É como quem bloqueia um ex que ainda ama por não suportar que ele tenha seguido em frente. Por outro lado, há quem te exclua porque você era apenas útil. As mensagens desaparecem, as curtidas somem, os telefonemas cessam. Suas novidades não provocam mais entusiasmo. Você começa a se questionar se a admiração era pelo seu trabalho ou por realizar o trabalho de maneira conveniente para aquelas pessoas. Você sente uma angústia terrível sobre a possibilidade de ter agido da mesma maneira com quem saiu antes de você.

Os dias vão passando. Sucedem-se semanas, meses. Você consegue voltar a ouvir os sambas da escola. As lágrimas já não correm, a dor diminui. É substituída pelo orgulho de tudo que ajudou a construir. As arestas vão sendo aparadas. Vez ou outra, você encontra um antigo companheiro, cumprimenta, conversam, até riem. Bate até aquela coceirinha sobre o futuro, esta eterna incerteza: quem sabe um dia estaremos juntos de novo? As lembranças boas ganham contornos e tintas que parecem mais intensos. Floresce a saudade de tudo aquilo de maravilhoso que foi vivido. Das alegrias e dos risos.

Sim, no fim, sempre são as coisas boas que nos marcam de maneira mais contundente.