segunda-feira, 31 de julho de 2017

O Rei, o Imperador e o Tirano: a fábula sobre a importância do povo

Por Fábio Castilhos 

A cultura pop atual traz a tona, de tempos em tempos, novidades para encher os olhos com coloridos, e inundar conversas e debates entre amigos – além, é claro, de inspirar Paulo Barros a criar alegorias para o próximo carnaval. A onipresença de elementos super-humanos já marca presença em nossos cinemas faz tempo, e conhecemos personagens da realeza: a Princesa Diana, Mulher-Maravilha que empoderou mulheres ao redor do globo; e o Rei T’Chala, Pantera Negra que me trouxe expectativas para um trailer honrando a nossa cor. Na ficção, sua realeza só é confirmada após o respeito mútuo entre líder e seu povo – Princesa Diana deve constantemente defender as Amazonas de sua Ilha Paraíso, enquanto o Rei T’Chala governa Wakanda com sabedoria e firmeza.

Na vida real, ao vermos tantos arremedos de liderança, surpreende aos que não conhecem o carnaval a reverência dada o Rei Fábio Verçosa. Em sua passagem por nossas vidas, Vossa Majestade demonstrou um carinho igual entre presidentes de agremiações e varredores de passarela, entre cabrochas e imprensa. Foi o Rei que o povo gostava de ir abraçar, não apenas pelo carisma natural ou pela importância dada à cultura carnavalesca, mas por trazer conscientização para os debates a cerca dos festejos de Momo. A partir dele, questionou-se o sobrepeso e a obesidade como características únicas para escolha dos próximos Reis Momos. Também fez muito pelos portadores de necessidades especiais, dando-lhes a visibilidade necessária para participarem ativamente da festa.  Fábio Verçosa reinou por ser competente e mostrar-se um apaixonado pelo seu povo, e sua passagem deixa saudades por nos fazerem falta líderes assim.

Foto: Evandro Oliveira/PMPA

Da mesma forma, podemos ver Imperadores do Samba. O Mar Vermelho e Branco movimenta uma multidão (não apenas de porto-alegrenses) durante o ano, seja pela imprensa que cobre os eventos relacionados ao carnaval, seja pelos contatos e pelo legado que fica ao trocar experiências com destaques de outros estados. Imperadores do Samba, por ser uma escola de longa data, assim como Bambas da Orgia, espelha e reverbera essa perseguição à cultura popular, pois a notícia de perda de suas quadras deixou de ser assunto exclusivamente periférico; teorias conspiratórias e especulações tentam a todo custo entender  o interesse em repentino nestes terrenos e nenhuma explicação se encontra. O resultado foi um Mar Vermelho e Carnavalesco buscar visibilidade por toda a cidade: o centro da cidade foi o palco central dessa manifestação, e outras tantas ainda virão.

Ao contrário do Rei e do Imperador, o Tirano exerce autoridade arbitrária e tirânica para ser reconhecido. Na Rússia, Ivan, o Terrível instaurou uma polícia militar e repressiva, para executar membros do clero e das famílias feudais russas. No leste europeu, Átila, o rei dos Hunos, como um guerreiro terrível, deixou um pânico tão grande em sua época que se dizia que, por onde passasse, não crescia grama. Na Alemanha, Adolf Hitler perseguiu e assassinou judeus, ciganos e negros por caprichos injustificáveis. Em Porto Alegre, Nelson Marchezan, o Júnior, e o Ministério Público não justificam de forma compreensível a retirada de verba para cultura popular nem o desalojamento de Escolas de Samba. Em uma última medida, houve a retirada da gratuidade da segunda passagem de ônibus para os trabalhadores de modo geral. Contudo, isso não é problema, pois os Tiranos de Porto Alegre não precisam governar nem o povo, nem o reino, nem a cidade; eles se governam.


E incomoda essa imobilidade, pois mesmo com todas estas conotações e perseguições, o povo sempre se mostrou digno e corajoso na hora de lutar pelos seus direitos e pelo exercício pleno da cidadania, e soube reconhecer quem lhe era tirano. E, apesar de muitas vezes ser colocado de lado pelos governantes, principalmente a população menos favorecida economicamente, que vive a mercê dos mandos e desmandos de alguns políticos, nosso povo é capaz de lutar e mudar a estrutura política; de buscar a liberdade contra governos ditatoriais. Com tudo isto, mostra-se que nosso povo precisa protagonizar um processo político e fazer a diferença, encarando as adversidades e combatendo as atuais perseguições que ocorrem nos bairros mais pobres, nas escolas sem professores, nos postos de saúde sem atendimento, por falta de responsabilidade de um governo tirano e déspota.

Não estamos parados por falta de revolta, ou por falta de problemas. Talvez o excesso de problemas nos faça perder o foco e não ter um objetivo em comum. Dessa forma, os problemas da cidade de multiplicam em passagens caras, buracos nas avenidas e descaso com trabalhadores. Na mesma esteira de outros tiranos, Nelson, o Júnior, tem uma patrulha com poder de desmontar cultura e desvalorizar pessoas, mata nossa história e nosso passado e desqualifica nossa luta por cultura. Como um tirano, não governa, pois está desgovernado. Como um tirano, não tem seguidores, não tem povo, não tem respeito. Como é tirano, não é Imperador e nunca será nosso Rei.